Após a perversa alta de preços dos fertilizantes para os custos da agricultura brasileira, chega a hora do ajuste nos defensivos agrícolas, que há um bom tempo mantém o mesmo valor no mercado internacional e em queda no Brasil face à valorização do Real. A conjuntura sócio-econômica mundial vem se modificando, o consumo mundial de alimentos vem aumentando, acompanhado pela crescente procura por biocombustíveis, situação que, consequentemente, afeta o equilíbrio entre oferta e demanda de agroquímicos e coloca em xeque o abastecimento do mercado pelos diversos tipos de insumos agrícolas. A China, grande exportadora de defensivos genéricos a preços baixos, está em ebulição nessa área. Olhando atentamente essa questão, observa-se que o país está em pleno processo de reestruturação das indústrias de defensivos agrícolas. Agora, existem leis que regulam as falências e a propriedade privada. Este ano entrou em vigor a lei de contratos de trabalho. O imposto de renda das empresas está progressivamente sendo equalizado em 25%, deixando o patamar dos 15%. A devolução do imposto VAT diminuiu sensivelmente. Fábricas são fechadas e reconstruídas em conformidade com as novas exigências ambientais. Nesse processo, inclusive, determinados inseticidas deixaram de ser produzidos, entre os quais o Metamidofós e o Paration Metílico, ambos de largo uso no Brasil, sendo que apenas o Metamidofós é produzido aqui pela Fersol e Bayer; por ora o Paration Metílico fica sem fonte fornecedora.
Outro ponto importante a ser analisado é a preocupação da China com o abastecimento interno. Desde março, os chineses aplicaram alíquota de exportação de 120% para os fósforos amarelo e branco, importantes matérias-primas do setor. O país também enfrenta inflação alta há dois anos e percebeu que já não é preciso vender seus produtos tão baratos para continuar competindo no mercado mundial.
A demanda por biocombustíveis também está aquecida, e tudo indica que ela só tende a aumentar com o barril do petróleo superior a US$ 100. Essa tendência também influencia os preços dos defensivos agrícolas, na medida em que matérias-primas derivadas do óleo negro e utilizadas nas sínteses dos ingredientes ativos passam a custar mais e pressionam os preços dos produtos finais; afora o aumento dos fretes internacionais. À jusante, o uso do milho pela América do Norte (USA) para biocombustível elevou o custo desse fundamental grão, arrastando os demais.
Somando esses fatores, estimamos que os defensivos devam nesse 2º semestre ter uma alta acima de 10% nos preços em Reais; sendo que alguns defensivos terão aumentos bem maiores, como os produtos à base de Atrazina, Carbendazim e Glifosato. Para o próximo ano o peso do aumento geral deverá ser mais expressivo ainda. Em verdade, a agricultura empresarial já está absorvendo esses aumentos, pois os descontos sobre os “preços de lista” já diminuíram.
Considerando que mais de um terço do PIB brasileiro provém do agronegócio, é indispensável que o governo inicie um processo estratégico de defesa da indústria local desse insumo. Hoje, cerca de 60% dos defensivos agrícolas consumidos no país são importados, quando em passado recente 80% eram fabricados aqui. O motivo é claro: falta de estímulos governamentais e de planejamento estratégico para o setor.
Ainda não é vantajoso investir no Brasil para produzir fitossanitários. Enquanto uma empresa nacional de produtos químicos sofre a incidência de impostos e taxas da ordem de 45%, sua congênere chinesa compete com uma carga bem menor. A química fina permanece importadora e não investe na especialização e oferta do leque das matérias- primas, apesar de todo o avanço tecnológico de nosso país. Erros primários assim só projetam um futuro pequeno e dependente.
Urge uma política industrial para o setor, concreta, de forma a reduzir a dependência externa e sua mudança repentina de humor. Caso contrário, o filme chocante que estamos assistindo com os fertilizantes terá sua versão nos defensivos agrícolas, ou agrotóxicos, ou pesticidas ou praguicidas, como queiram.
Eng. Agr. Tulio Teixeira de Oliveira Diretor Executivo da AENDA – aenda@aenda.org.br