Um ácaro quarentenário foi identificado em macieiras no Estado do Rio Grande do Sul e está causando preocupação para os produtores regionais. Os ácaros de importância agrícola, de um modo geral, apresentam um grande risco às produções devido a diversos fatores, como: o grande número de espécies, a dificuldade de detecção destes organismos, a atuação como vetores de fitopatógenos e a alta capacidade de sobrevivência sob condições adversas. Dessa forma, a introdução de novas espécies pode ter graves consequências.
Aculus schlechtendali é um ácaro da família Eriophyidae que pode ser encontrado em plantações de maçãs e peras. Normalmente, alimenta-se das folhas (causando ferrugem bronzeamento, secagem e senescência) e dos frutos ocasionando na podridão do mesmo. Em alguns casos é utilizado no controle biológico de ácaros predadores, por exemplo Typhodromus pyri, Amblyseius andersoni e Zetzellia mali. É uma espécie com ampla distribuição geográfica, sendo que na América do Sul há relatos de sua presença no Chile e na Argentina e recentemente houve uma publicação sobre sua presença no Brasil.
A detecção de A. schlechtendali no Brasil ocorreu em pomares de macieira localizados na Serra Gaúcha (RS) por pesquisadores da Universidade do Vale do Taquari. Os organismos foram coletados e enviados a um laboratório credenciado onde foi feita a identificação da espécie através de análises morfológicas. O estudo foi conduzido no período de novembro de 2016 e janeiro de 2017.
Esse relato é de grande importância, pois A. schlechtendali é categorizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como praga quarentenária ausente para o Brasil [1]. Feito o diagnóstico, cabe ao MAPA estabelecer medidas de contenção e/ou erradicação visando impedir a dispersão da praga. Não há, entretanto, um Plano de Contingência que possa ser colocado em operação.
Um aspecto preocupante é que existem referências relatando populações dessa espécie resistentes a pesticidas. Portanto, os indivíduos introduzidos no Brasil podem apresentar fatores genéticos de resistência a determinados ingredientes ativos, o que dificultaria ainda mais o controle do ácaro em campo.
A Região Sul do Brasil é responsável por cerca de 98% da produção nacional de maçã, sendo uma parte destinada à exportação. Dessa forma, pode haver a restrição do comércio internacional de maçãs produzidas no Brasil, pois as mercadorias exportadas podem ser interditadas caso a praga seja detectada, resultando na perda de parceiros comerciais. Entre os principais países importadores de maçãs brasileiras os que ainda não possuem relatos da presença de A. schlechtendali são: Arábia Saudita, Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Índia e Irlanda.
Desde 2001, pesquisadores da Embrapa já haviam alertado quanto ao risco de introdução dessa espécie no Brasil levando em consideração às importações de maçãs (frutos frescos ou mudas) de países onde o ácaro ocorre destinadas a áreas nacionais em que há cultivo de macieiras. Isso mostra a importância da fiscalização do comércio internacional para a segurança alimentar e econômica do país.
Fonte: Defesa Vegetal