O portal G1 entrevistou 26 deputados titulares da comissão especial que deverá votar sobre a Lei dos Agrotóxicos e 12 afirmaram que são a favor do relatório, 7 são contra, 5 não decidiram o voto e 2 não quiseram opinar. Do total de deputados da comissão, 20 (77%) são da Frente Parlamentar Mista da Agropecuária (FPA), também conhecida como bancada ruralista.
O parecer do relator Luiz Nishimori (PR-PR) flexibiliza a Lei dos Agrotóxicos e limita a atuação de órgãos de controle na autorização de produtos utilizados como pesticidas. Nishimori também propõe retirar a denominação “agrotóxico” e substituir por “produto fitossanitário”. Para que o projeto seja aprovado são necessários votos da maioria simples (metade dos presentes mais um).
O texto do relator sugere que somente o Ministério da Agricultura autorize a produção e venda dos agrotóxicos. Atualmente, além do ministério, a concessão do registro precisa passar pelo Ibama e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A proposta retira essa atribuição dos dois órgãos, que dariam apenas apoio técnico ao Ministério da Agricultura.
Ele explica que há uma grande fila de produtos que aguardam o registro para poderem ser introduzidos no mercado. Conforme o parlamentar, os produtos que estão na fila de espera possuem as mesmas substâncias de remédios que estão no mercado.
“Hoje há mais de 500 produtos na espera. Dos 500, 470, 480 têm os mesmos princípios ativos de remédios genéricos que estão no mercado há 40 anos. Com o projeto, a fila vai começar a andar. Se tiver qualquer problema, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não libera, está na Constituição que não pode ser liberado”, disse o relator.
Opiniões divididas sobre a Lei dos Agrotóxicos
A presidente da comissão especial, deputada Tereza Cristina (DEM-MS), é também coordenadora da Frente Parlamentar Mista da Agropecuária. Tereza disse que é favorável ao texto, pois a lei atual não acompanhou a evolução da agricultura.
Segundo a deputada, na FPA, todos estão “municiados de informações técnicas e científicas sobre a necessidade de modernização da legislação de defensivos agrícolas”. A deputada completa explicando que cada parlamentar vota de acordo com suas convicções, não por imposição da FPA.
O levantamento mostrou que todos os 12 deputados que são a favor do substitutivo, são membros da Frente Parlamentar Mista da Agropecuária. Dos deputados da FPA titulares da comissão, apenas dois são contra o parecer, Schuch e Zé Silva (SD-MG).
Schuch é presidente de uma outra frente, a Frente Parlamentar Mista da Agricultura Familiar. Para ele, o relator do projeto está “indo muito além do que os agricultores do Brasil precisam”. O deputado gaúcho destacou que há um problema no prazo de liberação de registro dos defensivos, mas que o relatório “reduz o teor científico” do processo de avaliação dos pesticidas.
“Para mexer na questão do prazo, não precisa mexer na lei toda. Eu que sou agricultor de profissão não quero manusear esse produto sem ter certeza de que o consumidor estará livre dos riscos. A frente (FPA) está querendo patrocinar, liberar tudo. Nunca vi um agricultor que goste de colocar produtos na lavoura, faz mal à saúde, é maléfico, mas é necessário para combater alguns insetos”, afirmou Heitor Schuch.
A presidente da comissão e coordenadora da FPA rebate o argumento. “A lei que trata dos defensivos agrícolas no Brasil foi criada em 1989, ou seja, tem quase 30 anos e, nesse período, sofreu poucas atualizações. Nos últimos anos, pesquisas científicas desenvolveram substâncias mais modernas e inovadoras e que hoje chegam com dificuldade às lavouras pela defasagem da legislação”, afirma Tereza Cristina.
A deputada afirma que a demora no registro de produtos novos, que pode levar até oito anos, segundo a parlamentar, também é um problema. “Muitas vezes, quando o produto é autorizado, está defasado. Em países como os Estados Unidos e Austrália, por exemplo, o prazo médio de registro é de três anos”, disse.
O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), e o ex-ministro de Meio Ambiente Sarney Filho são contra a proposta. O segundo afirmou que o projeto é “ruim”, podendo colocar em risco a credibilidade commodities brasileiras.
Entidades como Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Trabalho, Fiocruz, Ibama e Anvisa já emitiram notas técnicas contra a aprovação da matéria. Para o MPF, a proposta é inconstitucional.
“Pelos enormes riscos que traz para a saúde das pessoas, liberando até mesmo o registro de produtos cancerígenos, vamos lutar com todas as forças contra este projeto de lei. Também estão contra ele a Fiocruz, a Anvisa, o Ibama, o Ministério Público, além de 290 organizações da sociedade civil. Não vamos aceitar que coloquem veneno na nossa comida”, criticou Molon.
O deputado Aelton Freitas (PR-MG) ironizou os ambientalistas por não saberem como a produção funciona na prática.
“Sou agrônomo, o Brasil triplicou sua produtividade no setor. Não sei como vamos tratar de tanta boca sem usar agrotóxicos. Temos que fazer este país produzir. Queria que o pessoal da cidade fosse para o campo, para ver as pragas. Eu queria que os ambientalistas fossem produzir. Na teoria é uma coisa, na prática é diferente”, afirmou Aelton.
Quase metade de comissão especial apoia relatório que flexibiliza Lei dos Agrotóxicos, aponta levantamento
Votação do texto está prevista para esta quarta-feira. O G1 entrevistou os 26 deputados titulares da comissão; 12 afirmaram que são a favor do relatório.
Projeto
A Lei dos Agrotóxicos proíbe o registro de pesticidas que contenham substâncias suspeitas de provocar câncer; prejudicar desenvolvimento do feto; gerar mutações, distúrbios hormonais e danos ao aparelho reprodutor; causar dano ao meio ambiente e à saúde pública; e também substâncias para as quais não haja antídoto.
O relatório da comissão especial deixa mais genérico o conceito dos tipos de defensivos que seriam proibidos.
“Fica proibido o registro de produtos fitossanitários, de produtos de controle ambiental e afins que, nas condições recomendadas de uso, apresentem risco inaceitável para os seres humanos ou para o meio ambiente, ou seja, permanece inseguro mesmo com a implementação das medidas de gestão de risco”, informa trecho do substitutivo do relator.
Atualmente, não existe registro temporário de um agrotóxico. O projeto propõe que para os produtos já testados e em uso no exterior, haverá um registro temporário no Brasil. Para isso, o produto deve ser registrado em pelo menos três países-membros da OCDE e na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e deve ser usado na mesma cultura.
Para o deputado Bohn Gass (PT-RS), a FPA já direcionou a bancada ruralista e quer ampliar o uso dos “venenos” flexibilizando a legislação. O petista acha que as novas regras vão dificultar a entrada das frutas e vegetais brasileiros no mercado internacional.
“O mundo inteiro está banindo essas substâncias e o Brasil faz o contrário, flexibiliza venenos usados em outros países. Eles não leram o projeto, reanálise de risco não é a mesma coisa que suspensão do registro ou venda. Se um país nega o registro, não temos que usar esta substância tóxica aqui. É pior economicamente. O Brasil terá prejuízo, os consumidores estão cada vez mais exigentes, vamos ter barreira na venda do nosso produto. O mundo vai querer comprar coisa limpa e nós vamos vender coisa suja”, frisou o parlamentar.
Adilton Sachetti (PRB-MT), a favor do texto, disse que o relatório está mal colocado e que não está se tirando o direito de realizar pesquisas científicas e avaliações técnicas.
“Não se pode fazer avaliação ideológica sobre os fitossanitários. Nós ficamos à mercê e não podmeos ter produtos novos pela burocracia, pelo entrave. Cuidado com o meio ambiente, todos queremos. No Brasil demora de 8 a 10 anos para registrar uma molécula, isso não existe. Esta molécula pode caducar e surgir uma outra substância dentro desse período de registro. Não estamos impedindo de fazer pesquisa, queremos agilidade. Se 60 países utilizam o produto, lá pode e aqui não?”, concluiu.
Fonte: G1